Ex-médicos de hospital de São Paulo afirmam que eram obrigados a prescrever medicamentos sem comprovação de eficácia.

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Pela importância e gravidade do assunto, comento reportagem publicada no site da Globo:

 

Médicos que trabalharam na linha de frente da Covid-19 em hospital de São Paulo, relataram uma rotina de pressão e assédio para prescrever medicações não comprovadas cientificamente e que  podem agravar o quadro dos pacientes: o “kit covid”, com cloroquina, azitromicina, ivermectina e a flutamida, indicada apenas para câncer de próstata.

A reportagem da Globonews teve acesso a conversas em aplicativos de mensagens que confirmam o relato dos profissionais. Em um dos diálogos, um diretor da empresa orienta os subordinados a medicar todos os pacientes com problemas respiratórios com hidroxicloroquina e azitromicina sem avisá-los disso, ou seja, sem o consentimento livre e esclarecido dos pacientes ou seus familiares.

A reportagem também obteve prontuários médicos e outros documentos que mostram que pacientes foram submetidos a práticas vetadas pelo Conselho Federal de Medicina, como a ozonioterapia.

Flutamida

No dia 24 de março, o Ministério Público de São Paulo, instaurou uma investigação para apurar a prescrição de medicamentos não indicados, como a flutamida e o etanercepte. No mesmo dia, a Promotoria recebeu uma denúncia anônima de que “os médicos da direção da empresa estão solicitando a prescrição obrigatória para todos os pacientes internados com Covid-19 de medicações não comprovadas cientificamente”. A representação ao MP foi acompanhada de fotos de uma conversa em um grupo de médicos. Um diretor da operadora escreve. “Bom plantão a todos e enfatizo a importância da prescrição da Flutamida 250 mg de 8 em 8 horas para todos os pacientes que internarem”.

O etanercepte é um remédio para artrite e psoríase. A flutamida é um inibidor de hormônios masculinos, usado exclusivamente no tratamento do câncer de próstata.

Não há indicação da Anvisa para tratar pacientes com Covid, nem qualquer estudo científico publicado sobre a eventual eficácia desses medicamentos para o novo coronavírus. Os riscos também são desconhecidos.

A flutamida era comercializada para o tratamento de acne até 2004. Naquele ano, a Anvisa emitiu um alerta para que o remédio não fosse utilizado para nenhuma finalidade que não fosse o tratamento de câncer de próstata depois que quatro mulheres morreram de hepatite fulminante fazendo o uso da flutamida. Na bula da flutamida, o fabricante diz que o remédio não deve ser usado por mulheres e que a única indicação é para tratar câncer na próstata.

Pressão para prescrever “kit covid”

O CFM diz que os médicos têm autonomia para prescrever o remédio que achar adequado ao paciente, mas, segundo os médicos, não é o que acontece no hospital, sendo que um deles foi demitido depois de se recusar a dar essas medicações.

Em outra mensagem, de maio de 2020, outro diretor mostra um gráfico indicando queda na distribuição dos kits e cobra a equipe. “Não podemos perder o foco, voltamos a ter rendimentos ruins, não podemos perder o tônus”.

O monitoramento das entregas de kits é diário. Outra mensagem com a mesma orientação foi enviada no dia 15 de novembro por Whatsapp.

Dois dos médicos entrevistados pela reportagem disseram que foram obrigados a dar plantões mesmo estando infectados com o novo coronavirus. Um deles enviou o resultado do teste e a escala de plantões, provando que trabalhou com a doença.

Ozonioterapia

A reportagem ainda teve acesso a dois prontuários médicos de pacientes que foram internados no hospital, receberam todas as medicações do kit covid e acabaram morrendo.

Um dos pacientes foi submetido a uma sessão de ozonioterapia, prática que é proibida pelo CFM. A resolução do órgão diz que a ozonioterapia só pode ser feita “de acordo com as normas do sistema CEP/Conep”, que são os Comitês de Ética em Pesquisa que autorizam experimentações em humanos. A prática só é permitida em instituições credenciadas, o que não é o caso.

O coordenador da Conep, Jorge Venâncio, afirmou que iniciar uma pesquisa sem ter autorização é uma “irregularidade grosseira”. “Nesses casos de pesquisa não autorizada a responsabilidade por qualquer dano que exista ao participante é exclusivamente dos pesquisadores da instituição que tiver fazendo a pesquisa.”

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Para ler a reportagem completa, acesse aqui.

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